
É relevante que as escolas entendam que o trabalho inclusivo é uma realidade que não podemos mais negar. Uma escola que busca a qualidade nas relações educacionais têm que se preocupar também com a sociedade inclusiva, oferecendo oportunidades iguais para que os alunos com necessidades especiais possam ver seus sonhos saírem do papel, a felicidade se tornar uma constante em suas vidas e os seus direitos de cidadão respeitados por toda a sociedade.
Raquel Latini - Diretora CCEM

LENINHA


Claudine, professora de Biologia
Sempre que vejo Aristides, penso no poder que a mãe de um garoto tem para alterar sua vida, para influir nas decisões à sua volta, para auxiliar os filhos, seja com ações concretas, com estudo e exposição de idéias, participação, etc... É o que a gente sempre escuta:”Deus colocou um anjo na Terra, sob o manto da Mãe Maria”. Assim revelou esse poder não desanimando, buscando, questionando, favorecendo... Também o pai de Aristides assim o fez, com sua dedicação , participação ao lado de Lúcia, acompanhando-o ao estudo, ao futebol, aos passeios, quando não estava trabalhando. E os irmãos, também com sua solicitude, carinho e a boa vontade para com ele. Como a mãe conseguiu com a aparente fragilidade, o esforço hercúleo de congregar toda a família em torno de um mesmo objetivo? Ser especial mesmo! Penso ,da mesma forma,sobre o tempo em que estudou no CCEM. Quando ali chegou, me preocupei. Acostumada com alunos com os movimentos sincronizados, pensei se iria dar conta de tê-lo na sala com outros, muitos alunos, que poderiam não aceitá-lo, implicar com suas dificuldades, com sua agitação motora provocada pela paralisia cerebral na inconsciência descompromissada de alguns jovens... Mas não.Tudo não passou de temores antecipados. Cativou os colegas e a professora. Deu conta das minhas aulas de Língua Portuguesa, e lembro-me de que gostava muito de ler. Lúcia falava que ele lia muito em casa também. Sua participação nas aulas contava com a ajuda de um computador que ganhara do Pe. Marino, um computador com o teclado protegido com uma placa. Com o indicador, ele digitava os textos. O computador era transportado para a escola e também nele é que ele fazia as atividades de sala. Gostava muito de jogos virtuais e vivia conversando e trocando os mesmos com os colegas. Logo, revelaria uma inteligência superior, um humor no que fazia e dizia, a participar das atividades e até das conversas... bem humoradas. Tratei-o como qualquer outro aluno, zangava quando preciso, às vezes ele se zangava, mas, no geral, ria, acatava. Também brincava em determinadas situações. Entrava nas brincadeiras dos colegas, que o chamavam carinhosamente de Tidinho. Não fui preparada para atendê-lo, mas Deus certamente iluminou a mim e a todos os, professores do CCEM na ocasião. Mas, se tivéssemos sido preparados então, talvez pudéssemos, professores e funcionários, oferecer muito mais a ele. Na ocasião, em minhas aulas, eu trabalhava muito com seminários a respeito de temas da atualidade, e sempre este aluno dava suas opiniões, ouvido atentamente pelos colegas. E a gente percebia a amizade que eles tinham a ele, a ajuda quando ele precisava, mas não era como se ele fosse um coitadinho, não. Às vezes eles reagiam a algo que ele falava, às vezes brigavam, às vezes brincavam, mas tudo normal, a interação dele com a turma era muito boa. Bom ver que a escola estava no caminho era ver ele passando da aula de Educação Física(!) em seu velotrol/triciclo adaptado, rodeado de colegas, rindo e conversando. Depois na adolescência, já com um grupo de colegas mais selecionado, amigões, via-o passar com os colegas segurando apenas na ponta da gola da camisa, mostrando que a fisioterapia, o cuidado que os pais o cercaram dera resultado. Ele andava , mas tinha receio de aventurar-se sozinho, o que fazia tranqüilamente quando na praia, no dizer dos colegas. Mais tarde, vi-o cursando Ciências Biológicas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras "Santa Marcelina", onde trabalho. E senti como se a vitória fosse de meus filhos. Assim me senti também quando soube de sua aprovação no DEMSUR, e fiquei apreensiva até que fosse chamado. No dia de sua formatura, vi-o, de pé , de terno, tirando retratos com os familiares e colegas.Dei-lhe um abraço, o da vitória. Venceu ele, o pai, a mãe, os irmãos, a família. E a sociedade, de ter alguém sensível, responsável, preparado( como os professores revelam que ele coordenava os seminários!...). Imagine se a mãe(Anjo, sim!) tivesse aceitado tudo, não tivesse lutado, não tivesse inspiração de onde buscar, onde recorrer para atendê-lo?
Maria das Graças de Oliveira Castro (Dadace)
Professora de Língua Portuguesa e Produção de text0

Maria das Graças de Oliveira Castro (Dadace)
Professora de Língua Portuguesa e Produção de text0

Maria Amélia Queiroz Xaia
Professora e Secretária de Educação de Muriaé-MG
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