segunda-feira, 22 de junho de 2009

O trabalho com Aristides no CCEM foi um projeto que foi se desenvolvendo aos poucos, durante anos de aprendizagem para nossa escola, para o Tidinho e para a sua família. Recebemos orientação durante esses anos de especialistas, técnicos e um apoio incondicional de sua família.
É relevante que as escolas entendam que o trabalho inclusivo é uma realidade que não podemos mais negar. Uma escola que busca a qualidade nas relações educacionais têm que se preocupar também com a sociedade inclusiva, oferecendo oportunidades iguais para que os alunos com necessidades especiais possam ver seus sonhos saírem do papel, a felicidade se tornar uma constante em suas vidas e os seus direitos de cidadão respeitados por toda a sociedade.
Raquel Latini - Diretora CCEM
Quando o Aristides chegou aqui na escola ele não tinha controle motor nenhum, nem para tomar água, tínhamos que colocar água na boca... eu e a Dalva levávamos ele ao banheiro, depois com a fisioterapia e a confiança que ele foi adquirido foi desenvolvendo... os colegas o acolheram maravilhosamente bem e, a partir daí eles é quem o levavam para todos os lados."

LENINHA




Dalva desabou em lágrimas durante o seu depoimento sobre o Aristides: "Me lembro quando o Aristides veio estudar aqui...acho que ele veio na quinta série...muito comunicativo... Aristides é um menino abençoado...nunca desanimou. Sempre balançava o braço e dizia: vou conseguir! Uma das coisas boas que tive em minha vida foi a convivência com ele. Quando hoje eu o vejo trabalhando...sei que tive uma participação e isso me deixa muito feliz" DALVINHA
O que eu acho mais interessante é que o Aristides conquistou com os colegas dele, o respeito uma solidariedade tão grande... Participava de tudo... quando tinha jogo os colegas levavam ele para a quadra, o tempo inteiro ele participava de tudo... levavam ele para o banheiro, voltavam com ele...Eu acho que a escola foi muito positiva na vida do Aristides e foi muito positiva para os colegas dele também, pois os colegas aprenderam a respeitar e a conviver. Quando o pai parava aqui em frente a escola, já tinha os colegas que vinham ajudar a tirar a cadeira de rodas dele...isso tudo gerou uma solidariedade diferente na sala...outra coisa...ele jogava futebol com os meninos...era goleiro...se posicionava na cadeira de rodas e "fechava" o gol.
Claudine, professora de Biologia

Sempre que vejo Aristides, penso no poder que a mãe de um garoto tem para alterar sua vida, para influir nas decisões à sua volta, para auxiliar os filhos, seja com ações concretas, com estudo e exposição de idéias, participação, etc... É o que a gente sempre escuta:”Deus colocou um anjo na Terra, sob o manto da Mãe Maria”. Assim revelou esse poder não desanimando, buscando, questionando, favorecendo... Também o pai de Aristides assim o fez, com sua dedicação , participação ao lado de Lúcia, acompanhando-o ao estudo, ao futebol, aos passeios, quando não estava trabalhando. E os irmãos, também com sua solicitude, carinho e a boa vontade para com ele. Como a mãe conseguiu com a aparente fragilidade, o esforço hercúleo de congregar toda a família em torno de um mesmo objetivo? Ser especial mesmo! Penso ,da mesma forma,sobre o tempo em que estudou no CCEM. Quando ali chegou, me preocupei. Acostumada com alunos com os movimentos sincronizados, pensei se iria dar conta de tê-lo na sala com outros, muitos alunos, que poderiam não aceitá-lo, implicar com suas dificuldades, com sua agitação motora provocada pela paralisia cerebral na inconsciência descompromissada de alguns jovens... Mas não.Tudo não passou de temores antecipados. Cativou os colegas e a professora. Deu conta das minhas aulas de Língua Portuguesa, e lembro-me de que gostava muito de ler. Lúcia falava que ele lia muito em casa também. Sua participação nas aulas contava com a ajuda de um computador que ganhara do Pe. Marino, um computador com o teclado protegido com uma placa. Com o indicador, ele digitava os textos. O computador era transportado para a escola e também nele é que ele fazia as atividades de sala. Gostava muito de jogos virtuais e vivia conversando e trocando os mesmos com os colegas. Logo, revelaria uma inteligência superior, um humor no que fazia e dizia, a participar das atividades e até das conversas... bem humoradas. Tratei-o como qualquer outro aluno, zangava quando preciso, às vezes ele se zangava, mas, no geral, ria, acatava. Também brincava em determinadas situações. Entrava nas brincadeiras dos colegas, que o chamavam carinhosamente de Tidinho. Não fui preparada para atendê-lo, mas Deus certamente iluminou a mim e a todos os, professores do CCEM na ocasião. Mas, se tivéssemos sido preparados então, talvez pudéssemos, professores e funcionários, oferecer muito mais a ele. Na ocasião, em minhas aulas, eu trabalhava muito com seminários a respeito de temas da atualidade, e sempre este aluno dava suas opiniões, ouvido atentamente pelos colegas. E a gente percebia a amizade que eles tinham a ele, a ajuda quando ele precisava, mas não era como se ele fosse um coitadinho, não. Às vezes eles reagiam a algo que ele falava, às vezes brigavam, às vezes brincavam, mas tudo normal, a interação dele com a turma era muito boa. Bom ver que a escola estava no caminho era ver ele passando da aula de Educação Física(!) em seu velotrol/triciclo adaptado, rodeado de colegas, rindo e conversando. Depois na adolescência, já com um grupo de colegas mais selecionado, amigões, via-o passar com os colegas segurando apenas na ponta da gola da camisa, mostrando que a fisioterapia, o cuidado que os pais o cercaram dera resultado. Ele andava , mas tinha receio de aventurar-se sozinho, o que fazia tranqüilamente quando na praia, no dizer dos colegas. Mais tarde, vi-o cursando Ciências Biológicas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras "Santa Marcelina", onde trabalho. E senti como se a vitória fosse de meus filhos. Assim me senti também quando soube de sua aprovação no DEMSUR, e fiquei apreensiva até que fosse chamado. No dia de sua formatura, vi-o, de pé , de terno, tirando retratos com os familiares e colegas.Dei-lhe um abraço, o da vitória. Venceu ele, o pai, a mãe, os irmãos, a família. E a sociedade, de ter alguém sensível, responsável, preparado( como os professores revelam que ele coordenava os seminários!...). Imagine se a mãe(Anjo, sim!) tivesse aceitado tudo, não tivesse lutado, não tivesse inspiração de onde buscar, onde recorrer para atendê-lo?
Maria das Graças de Oliveira Castro (Dadace)
Professora de Língua Portuguesa e Produção de text0
Quando convidada a falar sobre Aristides sentimos o quanto é difícil explicitar nossas emoções, nossa saudade de um tempo guardado no cofre das mais caras lembranças. Nosso aluno por quatro adoráveis anos, acolhia-nos sempre, professores e colegas, com um sorriso aberto de quem sabe que a alegria nasce da alma, trabalhava suas idéias de tal forma que chegavam a nós com a objetividade de quem sabe que a simplicidade explica e resolve, participava como quem entendia que sua participação estimulava o entendimento de muitos. Em sala de aula sentíamos “em casa”, aprendíamos que entre operações e expressões matemáticas existiam cooperação e respeito. Sua turma era cúmplice, parceira, a extensão de seu bom humor. Impossível não destacar a presença da família de Aristides em sua trajetória escolar. Participação e doação ativas fizeram com que vínculos de grande amizade se formassem entre Escola e Família. Aristides é um apaixonado pela vida, é capaz de transformar suas limitações em força para realizar seus anseios, é a alegria de quem aprendeu muito mais do que ensinou, o carisma que envolve e faz-nos pequenos diante de tanta grandeza. Aristides é “um mestre”.
Maria Amélia Queiroz Xaia